sábado, 2 de abril de 2011

ARTIGO- Relato de experiência Projeto Aprendendo com essa Gente – APAE- Ariquemes

Relato de experiência Projeto Aprendendo com essa Gente – APAE- Ariquemes
Ana Claudia de Andrade Trondoli  ana_1887_92@hotmail.com
Pedagoga especialista em Educação Especial - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE

Resumo

O presente artigo trata de um relato de experiência do projeto “Aprendendo Com Essa Gente” executada na Escola Ilma Nunes de Freitas, mantida pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, a qual objetiva atender portadores de deficiência múltipla, surdos cegos, busca orientar a família quanto à valorização e a melhoria na qualidade da vida dos mesmos.

Palavras chaves: Deficiência múltipla, atendimento pedagógico,

Introdução

Esse artigo tem como objetivo relatar a experiência do projeto “Aprendendo com essa Gente”, que se desenvolvem na Escola Nunes de Freitas, mantida pela Associação de Pais e amigos dos Excepcionais de Ariquemes, atualmente a escola atende um total de 210 educandos, portadores de deficiência intelectual, visual, auditiva, condutas típicas e deficiências múltiplas.
 Contamos com prédio em ampla área construída, contendo salas pedagógicas, salas de atendimentos clínicos, administrativo, duas piscina, sendo uma aquecida, quadra de esporte e jardim. A escola mantém convênios com o Governo do Estado e Município, para sedência de funcionários e manutenção. O quadro funcional é constituído de professores com formação em nível de especialização, superior e técnico, que atuam em salas de aula, supervisão, orientação e avaliação.
A escola segue uma linha pedagógica orientada pela Federação Nacional das APAES, intitulado APAE EDUCADORA, que visa “cumprir os dispositivos legais vigente no país, os princípios do movimento apaeano é atender as demandas sociais latentes” (APAE EDUCADORA 2001 pg. 15). Os programas de atendimento são divididos em fases, baseado na grade da rede regular de ensino, todos os educandos são encaminhados para inclusão no ensino regular, ficando assim a critério da família promover ou não essa ação.
   Em 2009 observamos alto índice de evasão escolar pelos educandos portadores de deficiências múltiplas, desenvolvemos uma pesquisa para levantar os fatores que determinaram a desistência do atendimento. Os pontos citados pelas famílias foram: as condições de transporte, saúde física comprometida e se observou um ponto preponderante em todas as a famílias, a dificuldade na elaboração do luto do filho perfeito e a aceitação do filho deficiente, que reflete nas atitudes do cotidiano, representado pelos comportamentos de rejeição e negação.
Embasados nesses dados elaboramos um projeto de atendimento especializado para essa clientela intitulado “PROJETO APRENDENDO COM ESSA GENTE”, que tem como objetivo principal melhoria da qualidade de vida, estabelecimento de comunicação alternativa, resgate da auto-estima, interação no meio social dentre outros objetivos.
Iniciamos os atendimentos oferecendo um transporte exclusivo para os mesmos, e atendimento pedagógico e clinico especializado aos pais e educandos. Contamos atualmente com uma sala ampla, colchonetes, espelhos, bebedouros, aparatos de higiene e materiais pedagógicos para tal atendimento.
Faremos agora um breve relado das experiências e dos grandes avanços alcançados em dois anos de atendimentos. Nosso grupo hoje é formado por duas pedagogas, motorista e equipe de apoio clinico, que atende no período matutino, oito educandos, portadores de paralisia cerebral grave, portadores de síndromes genéticas progressivas, portadores de seqüelas de trauma pós cirúrgicos e atualmente uma educanda com surda cegueira.
Os atendimentos são feitos em sala de aula, com estrutura própria, os atendimentos pedagógicos visam resgatar a autonomia de aprendizado, buscando estruturas mentais que resultem em mecanismos de compensação onde poderão utilizar as áreas preservadas do cérebro para adquirir conhecimento.
Essas graves deformidades físicas geram nas pessoas a sua volta e nos familiares um sentimento que traduziremos aqui como “pessoas mortas vivas”, um ser, com corpo disforme e com o intelecto preservado. Na parte motora, promovemos adaptações nas cadeiras de rodas e colchonetes, para que o educando possa estar bem acomodado e com campo visual bem privilegiado, podendo acompanhar nossas falas e estímulos.
 Na área cognitiva procuramos inicialmente firmar vinculo afetivo e comunicação alternativa, quem determina a forma é o educando, através fala de exclusão, delimitamos códigos de respostas, como o SIM, seria um piscar de olhos ou um sorriso, o NÃO um movimento diferente, partimos desse ponto para as atividades bem especificas.
Avaliamos o conhecimento de cada um, baseado nas fases de desenvolvimento segundo Piaget. Promovemos atividades utilizando recursos lúdicos, materiais pedagógicos, sucatas entre outros materiais adaptados. Promovemos em sala de aula a inclusão dos outros alunos da escola, através das aulas de musica, onde cantamos e tocamos instrumentos, nesses momentos o objetivo principal é desenvolver a memória, percepções auditivas e estimular a fala oralizada e a socialização.
Uma vez por mês utilizamos a piscina, essa atividade é a mais divertida lá todos brincam e aproveitamos para fazer relaxamento, temos como objetivo, promover a vivência de atividades diferenciadas, pois sempre eram excluídos pela dificuldade de entrar na piscina, nessa atividade conduzimos os alunos.
O atendimento da família se faz através dessa vivência diária. Todos os dias vamos à residência de cada educando, dialogando com a criança e a mãe trocando informações do cotidiano. Nesse breve bate papo introduzimos orientações e sempre relatamos os avanços alcançados durante aquele dia, com essa postura observamos que a família volta a acreditar que pode ser mudada aquela situação atual.

Relato de experiência

Citarei o caso do educando que darei o nome fictício de José, é o segundo filho de uma prole de três, atualmente com 15 anos, teve parto complicado e na seqüência icterícia grave o que provocou seqüelas irreversíveis na área motora, cognitiva, visual e auditiva, comprometendo membros superiores e inferiores, atualmente com agravamentos ortopédicos, o que compromete a respiração e saúde física, o mesmo apresenta freqüentemente espasmos severos, que são desencadeados seqüencialmente com qualquer estimulo visual, auditivo e ou tátil, não tendo muito controle medicamentoso. Quanto a cuidados de higiene pessoal podemos classificar como precários, observamos escoriações nas articulações do corpo, resultado dos movimentos repetitivos em solo ríspido, dentição sem nenhuma higiene e com todos os dentes gravemente comprometidos por falta de cuidados, alimentação basicamente liquida, extremamente abaixo do peso e sem medicação para controle de espasmos.
No inicio dos atendimentos, José apresentava apatia severa, desmotivação, espasmos motores graves, desencadeados por picos emocionais, choro insistente pelo desconforto físico, observamos o mesmo em sua casa e constatamos que passava dias e dias em seu leito ou no chão assistindo televisão, sem estímulos construtivos.
O educando foi avaliado e feito um planejamento quanto às necessidades de apoios para melhoria da qualidade de vida e interação, adotamos as seguintes condutas: orientação da família quanto à higiene, higiene pessoal diária feita pela monitora de saúde da escola, melhoria na alimentação e substituição do leite para alimentos pastosos, estruturação da comunicação alternativa, estruturação do vinculo afetivo família.
      Pontuarei o quadro atual, hoje José tem uma condição de saúde melhor, já aceita alimentos pastosos, houve ganho de peso. Quanto à mãe, podemos afirmar grandes progressos no cuidado da higiene pessoal do filho, pois todos os dias ele toma banho na escola e volta pra casa com roupas limpa e cheirosa, nosso objetivo era demonstrar que quando bem cuidado ele ficava mais feliz,quando o entregávamos no colo dela enfatizávamos, “olha mamãe como to cheirosinho” com isso ela foi mudando a postura e fazendo o mesmo, hoje ela participa das reuniões e festividades da escola, esta mais inclusa no processo educacional do filho.
Na área cognitiva foi onde obtivemos mais avanços, hoje ele reconhece os professores e amigos de sala, não apresenta tantos momentos de fuga da realidade, os espasmos conseguiram amenizar com musicas calmas e sessões de relaxamento através do toque. Nas habilidades conceituais, linguagem receptiva apresenta bom desempenho, na linguagem expressiva, já tem firmado sua forma de comunicação. Nas habilidades sociais apresenta ainda baixa auto-estima,retraído, levando em consideração a relação que a família tem com o mesmo, justifica-se o comportamento. As habilidades práticas, devido sua dependência para atividades básica, considero bem significativo o indicativo da vontade e controle de suas funções biológicas, que indica os desconfortos fisiológicos.



Considerações finais

A proposta do projeto tem contribuído de forma decisiva na qualidade de vida de cada educando atendido, cumprimos um dos papeis da educação que segundo Ruben Alves é “mostrar a vida a quem ainda não a viu”.
No caso de José, isso fica muito claro quando conversamos com ele e temos como resposta um sorriso, o que antes era um ser estagnado hoje é um ser que se percebe e que se faz percebido, conseguimos resgatar a força vital de sobrevivência, a mudança de postura da família foi significativa na aceitação da diferença do filho.





Referencias


BRAGA, Lúcia Willadino. Cognição e paralisia cerebral: Piaget e Vygotsky em questão. Salvador: Sarah Letras, 1995. 134 p.

 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 200 p. 

BRASIL.Estatuto  da Associação de Pais e amigos dos Excepcionais. 2, inciso 1º
UNIAPAE.2010 Sistema AADI:Diagnostico,Classificação e  Paradigma de Apoio Para Pessoa com Deficiência Intelectual



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